Reprodução Esta ave chega a Portugal para nidificar em Março, dando-se as primeiras eclosões em fins de Julho. Os juvenis, abandonam o ninho entre Setembro e Novembro, para regressarem 8 a 9 anos depois para a sua primeira tentativa de nidificação (Mougin at al 2000). De Novembro a Março as Cagarras vivem exclusivamente no mar. Distribuição e tamanho populacional A Cagarra apresenta uma distribuição Europeia, à excepção das colónias de Cabo Verde, Argélia e Tunísia. Estão identificadas três subespécies e a área de distribuição daquela que ocorre e Portugal , C. d. borealis, estende-se às Berlengas, e aos Arquipélagos da Madeira de Canárias e dos Açores. No Mediterrâneo ocorre a subespécie Calonectris diomedea diomedea enquanto que em Cabo Verde ocorre a C. d. edwarsi. No Arquipélago da Madeira a Cagarra ocorre em todas as ilhas, sendo muito abundante nas Desertas e nas Selvagens. Nos Açores ocorre em todas as Ilhas do Arquipélago. A maior população desta espécie localiza-se nos Açores onde estão estimados cerca de 188000 casais embora a maior colónia seja nas Ilhas Selvagens na Madeira, onde só na Selvagem Grande nidifiquem mais de 15000 casais destas aves. Identificação É uma das aves marinhas com maior porte do nosso território e pode ser identificada pelo seu tamanho, associado ao seu voo rápido e planado. A sua cor castanha por cima e branca por baixo permite distingui-la dos Gansos-patolas Sula bassana juvenis, também de grande porte mas uniformemente castanhos. Habitat A exemplo dos outros Procellariformes aqui referidos a Cagarra nidifica em falésias costeiras, pequenas ilhas e ilhéus. O ninho pode ser construído em cavidades existentes nas rochas, buracos escavados no solo e por baixo de grandes pedras ou mesmo de arbustos.
Em termos históricos é uma ave afectada pela predação humana, especialmente na Madeira o que provavelmente levou a um acentuado declínio populacional neste Arquipélago até ao início da década de oitenta. Na sua restante área de distribuição, as principais ameaças identificadas relacionam-se com a presença de ratos, gatos e outros mamíferos introduzidos nas suas áreas de nidificação. Também a destruição de ninhos por movimentação de terras durante obras, o atropelamento de juvenis durante os seus voos de treino e a captura acidental por algumas artes de pesca são ameaças a ter em conta em algumas das suas zonas de ocorrência. Estado de conservação e instrumentos legais de protecção A Cagarra tem um estado de conservação vulnerável e dependente da gestão. Está presente no Anexo I da Directiva Aves e no Anexo II da Convenção de Berna. Uma área significativa do seu habitat está incluido no Anexo I da Directiva Habitats. Estado actual do conhecimento em Portugal Esta é a espécie melhor estudada em Portugal, tendo sido alvo de estudos tanto no Continente, como na Madeira e Açores. Existem diversos trabalhos disponíveis sobre a sua biologia reprodutora, dieta, genética populacional e censos de população. Quanto à sua distribuição no mar já foram realizados alguns estudos com Compass Data-loggers sobre as sua áreas de alimentação nos Açores durante a época de reprodução e outros com PTTs sobre movimentos de dispersão nas Ilhas Selvagens. Comentário Nas Ilhas Selvagens, segundo documentos do fim do século passado, as capturas ascendiam aos 30.000 juvenis/ano (Zino 1985). Com o aumento do número de barcos com capacidade para viagens longas, foi necessário criar restrições a esta actividade. Foi então criada, em 1971, uma das primeiras Reservas de Portugal, a Reserva Natural das Ilhas Selvagens. Mougin, J.-L. & M.-C. Mougin 2000. L’évolution des effectifs reproducteurs des Puffins cendrés Calonectris diomedea borealis de Selvagem Grande (30o09’N, 15o52’W). Boletim do Museu Municipal do Funchal 52(301): 45-50. Zino, P. A. 1985. A short history of the shearwater hunt on the Great Selvage and the recent developments on this island. Bocagiana 84: 1-14. |